• ENTRAR
  • Nenhum produto no carrinho.

Combate com facas

Mitos e verdades

Há na internet e no mundo real diversas discussões acaloradas sobre o uso de facas em um combate. Vou citar alguns pontos que costumam ser bem polêmicos dando exemplos de situações em que ataques ou confrontos podem acontecer. É importante ressaltar que cada situação é única. Quando começamos com “e se…” (e se a pessoa atacar assim, e se a pessoa fizer isso) as respostas podem e devem mudar para se adequar às situações.

 

Sair da linha do ataque

 

Essa é a primeira lição que meus alunos aprendem. A sair da linha do ataque. Sair movendo o corpo. Isso porque muitas vezes não é possível ver a faca. Em uma situação de estresse a sua visão periférica diminui, restringindo-se às áreas roxas da figura abaixo. Isso é chamado de “visão de túnel”.

A visão periférica normal, em ângulos de 60-90º na horizontal e 70º na vertical só conseguimos identificar movimentos

 

Confiar nos olhos para identificar a faca é um luxo

 

Agora imagine a seguinte situação: você está andando na rua e um agressor tenta puxar a sua mochila. Você conseguiu segurar a alça e começa a disputa, tenta acertar alguns socos e chutes no agressor. Percebe que ele está “ganhando”, você começa a se sentir fraco e não consegue mais segurar a mochila. Ele sai correndo. Você olha para baixo e vê sangue, começa a procurar com a mão e demora para perceber que recebeu algumas estocadas enquanto tentava segurar a mochila.

Com a sua visão periférica restrita e a mochila se movendo você não percebeu que o agressor tirou uma faca da cintura e o esfaqueou enquanto tentava segurar a mochila. Você nem sentiu a estocadas (sim, isso pode acontecer).

A percepção corporal em uma situação de estresse também diminui. Ou seja, a sua capacidade de sentir diminui. Por isso sair da linha de ataque é uma das coisas mais importantes que podemos aprender. Normalmente treinamos isso repetidas vezes, cada vez de uma maneira ligeiramente diferente, trazendo a atenção para possíveis formas de solucionar um ataque (chave de cotovelo, socos, chutes, etc.. – a gosto do freguês como costumo dizer). Confiar nos olhos para identificar a faca é um luxo que não deve ser estimulado, é preciso aprender a mover o corpo para diminuir o risco de dano. As vezes você até dominou a situação, mas seu agressor estava acompanhado e, você focado apenas nele, não percebe o seu entorno e pode ser golpeado

É comum ver um vídeo de Systema onde mostramos um movimento devagar e as pessoas comentarem coisas do tipo “Você acha que a pessoa vai atacar assim, devagarzinho?” . Não. É óbvio que não. Mover devagar é um exercício que favorece o aprendizado motor (mais recrutamento neurológico = aprendizado mais rápido), permite que os alunos enxerguem a proposta do exercício e, principalmente, dominem a medo subconsciente de facas. Eu não costumo colocar na internet vídeos com combate com facas, apenas exercícios. Nunca se sabe quem irá assisti-lo e isso pode custar a vida de uma pessoa. Meus alunos sabem que, mesmo treinando devagar, ainda assim demoram para aprender a sair da linha da ataque. Experimente fazer isso com um colega, simplesmente sair da linha de ataque na mesma velocidade que a pessoa ataca e mantendo a possibilidade de revidar. Não é tão fácil quanto parece.

 

Cortes / Slash vs Estocadas

 

Em questão de fatalidade as estocadas ganham. O perigo de um combate com faca não são os cortes nos braços que podem acontecer enquanto você tenta se defender (se você entrar em um briga com faca, você será cortado. É ilusão achar que você sairá “limpo”. Aceite isso e talvez você possa  ter uma boa chance). Cortes superficiais lesionam a pele e vasos sanguíneos superficiais / arteríolas. Cortes mais profundos podem acertar tendões e músculos, mas dificilmente acertará uma artéria ou veia (vasos sanguíneos importantes normalmente estão abaixo da musculatura). Um tendão ou músculo lesionado diminui sua capacidade de se defender, obviamente, dando uma oportunidade para que seu agressor acerte um golpe com letalidade maior. Mas não será o corte que irá colocar sua vida em risco.*

É preciso perder uma grande quantidade de sangue (mais de 1,5l) para que um adulto típico entre em um estado de hipovolemia e corra risco de vida. É uma grande quantidade de sangue, dificil de acontecer apenas com cortes / slashs. No entanto o sangue tem um efeito muito interessante no psicológico e fisiológico. Ao sentir o cheiro de sangue, mesmo que não tenhamos consciência, seu corpo já começa a liberar adrenalina. Se você recebeu cortes a quantidade liberada será ainda maior para executar duas funções principais: vasoconstrição (diminuir o diâmetro dos vasos para evitar a perda de sangue e favorecer a coagulação) e aumentar a frequência cardíaca para que sua resposta seja adequada à situação. **

O perigo são as estocadas.

Para uma faca penetrar a pele há várias variáveis envolvidas, formato da faca (ângulo da ponta, se está afiada); ângulo de aplicação da força e a própria força, quantidade de tecido que existe (roupa), região que receberá a estocada ( pele fina / grossa). As estocadas acontecem normalmente na região abdominal e peitoral, áreas com bastante irrigação. Não, você não recebe uma facada e cai morto no chão (exceto se um profissional executou o trabalho, o que não é a realidade para a grande maioria das pessoas). As estocadas são mais difíceis de perceber que os cortes, muitas pessoas relatam uma leve sensação de queimação durante a briga e depois percebem que receberam uma facada (os receptores na pele são mais estimulados com cortes do que com estocadas e órgãos não tem receptores sensoriais de dor como na pele, assim é difícil de perceber um dano). Normalmente as pessoas recebem vários golpes até caírem.

Também não é a facada em si que irá levar alguém à óbito, mas sim a hemorragia interna que gera hipovolemia e seguido de parada cardiorespiratória. O atendimento precisa ser muito rápido para tentar salvar a vida da vítima e como normalmente há vários pontos de sangramento, o trabalho dos profissionais acaba sendo muito difícil.

* Algumas técnicas de defesa com facas que são ensinadas baseiam-se muito nos cortes / slash. Normalmente vem de modalidades de países tropicais (úmidos e quentes – ótimo para proliferação de bactérias), com saneamento básico precário e atendimento hospitalar ruim. Pequenos cortes podem evoluir para infecção e para morte sem atendimento adequado. Muitas dessas técnicas surgiram antes da Penicilina (que teve seu uso difundido a partir da Segunda Guerra Mundial).

** O cheiro de sangue potencializa a reação de estresse do nosso corpo. Visão de túnel, menor precisão motora, contração muscular involuntária são apenas algumas das reações possíveis. Em uma situação de estresse é possível também ter a resposta de “congelamento”, como se seu sistema nervoso desligasse e você não fosse capaz de pensar ou mover. É importante entender essas reações fisiológicas para entender as respostas em uma situação de estresse. Atualmente não matamos mais animais para comer, eles já vem congelados. Mas para quem teve a experiência de matar um animal de médio/grande porte sabe que a situação não é limpa nem agradável. É preciso muita técnica para neutralizar o animal sem que ele sofra.

Pegar na lâmina

 

Por algum motivo, que não sei explicar, criou-se um mito que não pode pegar na lâmina. Existem diferentes tipos de facas, lâminas com fio dos dois lados, lâminas curvadas, lâminas com fio apenas na ponta, etc. Se você entrou em um confronto, consciente de que poderia ser esfaqueado e morrer, porque você não segurar da faca? Pode ser uma ótima estratégia para tirar a “vantagem” que seu oponente tem sobre você.

Há tratados desde o século XV mostrando defesas contra facas segurando na lâmina.

Ao engajar em um confronto é necessário estar preparado para morrer, porque essa é uma possibilidade real.

Dificilmente um civil será exposto a uma situação de combate com faca no qual sua vida dependa disso. A probabilidade maior é que a pessoa use a faca como forma de intimidação para ganhar algo (bens materiais – por exemplo um celular). Por isso é preciso analisar a situação. Saber quais são as suas alternativas. Ao engajar em um confronto é necessário estar preparado para morrer, porque essa é uma possibilidade real. O celular vale a sua vida?

E se a faca é usada como forma de intimidação para cometer um abuso sexual? Vale a pena se defender? Quem decide é a vítima. O meu trabalho é fornecer opções para que cada pessoa possa escolher o melhor para si naquele momento.

Não estimulamos a violência. Ensinamos nossos alunos a se defender e protegerem suas vidas e das pessoas que eles amam. Não ensinamos a matar. Esse é um ponto às vezes negligenciado nas técnicas que são ensinadas por ai. Mostram defesas com respostas muito agressivas.

Se você se defende e o resultado é um agressor morto além das consequências psicológicas e kármicas (para quem acredita) haverá também consequências legais. Você será processado e poderá sofrer uma sanção por uso excessivo de força, mesmo alegando legítima defesa. É um processo longo e custoso (emocionalmente e financeiramente). Por isso é importante manter o controle, fazer apenas o necessário para garantir a sua segurança e a segurança das pessoas à sua volta (se for o caso).  

 

Se quiser saber mais sobre defesa contra facas, adquiria nosso DVD introdutório sobre o tema clicando aqui.

07/01/2018

Quer saber mais?

Entre em contato conosco

contato@artemarcialrussa.com.br

Rua Capital Federal 102 São Paulo/sp

11 2368-1027

11 99942-7902

Venha para uma aula experimental!

Assine nossa Newsletter

  Fique por dentro das novidades
© Systema Brazil. Todos os direitos reservados
X